segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Alma assaltada, alma despida

É incrível como, enquanto nada nos acontece, não temos tanta preocupação com aquilo por que as outras pessoas passaram ou simplesmente com aquilo que muitas delas sentiram num momento de quebra. Em certas alturas, sentimo-nos mesmo importantes ao ponto de nos esquecermos de que de um momento para o outro nos podem despir com a mesma facilidade com que nos abordam.
Foram precisos cinco anos para me aperceber disso, cinco anos e um mês (mais propriamente). Estes minutos que ainda neste momento conto, como se ainda estivesse naquele local, naquele exato momento, foram aqueles que me fizeram perceber o quão é fácil nos sentimos vulneráveis perante uma ameaça, ainda que nos sentamos capazes de a enfrentar.
Nestas alturas, tudo o que é abstrato, mais mais real do que nunca, torna-se infinitamente mais complicado de se materializar, de descrever. É toda uma inércia que se segue depois de um momento de estupefacção. É toda uma mixórdia de sentimentos que se sobrepõem à mais pura racionalidade.
Quantas vezes nos dias, em crianças, para evitarmos o escuro, para evitarmos o desconhecido? Quantas vezes nos avisam para não seguirmos por aí, que nós vamos cair e aleijar-nos? Deveria ser a lei da vida. E de um momento para o outro, toda essa coragem se desvanece e contraimo-nos, rendemo-nos, consequentemente, ao medo. Uns meros minutos para toda uma chama se deixar envolver por um manto de incertezas e de medo.
Todos os dias, sentimos necessidade de sair de nós mesmos, de refletir sobre aquilo que já foi alcançado por nós, tentar descobrir a raiz dos nossos problemas, o porquê de nos sentirmos parados no tempo sem saber o que fazer, a deambular pelas ruas da nossa alma à procura de uma resposta para as nossas incertezas. Porém, entram num beco, já perseguidos por duas almas sedentas de dinheiro, já abordados por elas uns minutos atrás, e pela primeira vez presenciam tudo aquilo que estudam (na teoria) e temem principalmente pela vossa vida. Independentemente daquilo que supliquem, existem sempre aqueles sujeitos que se acham com maior necessidades do que vocês e preferem ir pelo caminho mais fácil. Enquanto criminólogo, não os culpo, pelo menos totalmente. Assumo-me como vítima pela primeira vez em toda a minha vida, não por aquilo que me levaram, mas pelas repercutências psicológicas que isso teve e a auto-reflexão que devo levar daqui para a frente para não entrar em paranóia. Não culpo totalmente a polícia também, porque, não obstante ser o seu trabalho, compreendo, mais do que ninguém, que não é nenhum organismo omnipotente, e a criminalidade, mesmo aquela de pequeno porte, irá sempre existir.
Enquanto criminólogo, apesar de hoje ter sido vítima, não sou apologista de uma pena de morte nem nada que se pareça, não caio em determinismos desmedidos.
Às duas almas que hoje assaltaram a minha, e que fugiram a sete pés, que sejam felizes, na sua mais pura ignorância.

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